Psicopatologia
Do modo tradicional, psicopatologia é definida como uma doença da mente. Ou seja, um indivíduo apresenta psicopatologia se a sua mente está funcionando de forma anormal. Essa definição pode ser criticada em muitos sentidos.Primeiro, será que existe uma mente que fica doente? Skinner, behaviorista radical, diz que não. Thomas Szasz, psiquiatra e psicanalista, diz que não. Para esses e outros autores, não se pode medir a mente, nem localizá-la no espaço, nem observá-la à distância; portanto, não se pode afirmar que ela existe.
Nas palavras do psicanalista Thomas Szasz:
“Uma doença é um algum tipo de funcionamento anormal do corpo humano. A mente é obviamente algo semântico, linguístico, e não faz parte do corpo humano”.Szasz diz em poucas palavras: se não existe mente, ela não pode estar doente.
Para Skinner e Szasz, as relações humanas com o mundo são comportamentais: ou seja, os problemas ditos “mentais” são, na verdade, problemas do comportamento. Essa afirmação significa que é na relação do indivíduo com seu mundo que estão as dificuldades. Um indivíduo deprimido exibe poucos comportamentos e relata tristeza devido à relações prejudiciais que está mantendo com o ambiente e não porque seu corpo está apresentando um mau funcionamento.
Isso nos leva a uma segunda crítica à noção clássica de psicopatologia. Iniciemos com a pergunta: ainda que não exista mente, será que existe doença do comportamento?
Parece que não. Se um indivíduo está deprimido porque perdeu alguém querido, é possível dizer que sua tristeza é anormal? E se teve uma infância na qual não foi valorizado, sua depressão é anormal? Alguém com transtorno de estresse pós-traumático por ter batido o carro, está se comportamento de maneira anormal? Se a maioria das pessoas gosta mais da cor azul do que da verde, gostar da cor verde é anormal? Ser diferente dos outros é ser anormal?
As perguntas acima parecem querer um não como resposta. A partir do momento em que se é conhecida a história de vida de uma pessoa queixosa, identificando os elementos importantes que afetam seu comportamento atual, é muito difícil sustentar que essa pessoa tem uma doença da mente. O problema dessa pessoa, sua queixa, passa a ser explicada com relativa facilidade como uma reação normal à sua história de vida.
Um teste fácil de ser realizado: tente identificar quais elementos do ambiente são responsáveis por qualquer comportamento que julgue estranho em si mesmo ou em outra pessoa. Enquanto tais elementos não forem reconhecidos, o comportamento parecerá estranho. A partir do momento em que forem encontrados os fatos ambientais responsáveis pelo comportamento, ele deixa de ser considerado anormal; sua existência torna-se normal, um resultado óbvio dos fatos.
Uma terceira crítica à noção clássica de psicopatologia diz respeito à rotulação ocasionada por essa noção. Se existe doença mental, ela deve ter um nome. O problema é que o nome termina por definir a pessoa, e não apenas a doença. Um indivíduo com o rótulo de depressivo deixa de parecer alguém comum; tratam-no como alguém com características especiais, que precisa de cuidado constante e em quem não se pode confiar. Um rótulo não é uma pessoa. A pessoa é ampla, complexa, refinada, particular. O rótulo termina com a individualidade, com o refinamento, com a complexidade, pois transforma o indivíduo em um nome.
Os rótulos se tornam especialmente problemáticos quando se descobre que não há, ainda, testes científicos que comprovem os diagnósticos psiquiátricos (e psicológicos, já que, muitas vezes estes se baseiam naqueles). Não há como provar cientificamente que existe a depressão, a esquizofrenia, o transtorno obsessivo-compulsivo, e assim por diante. Os diagnósticos são feitos com base em um manual estatístico criado por consenso, e não por observações de mau funcionamento do corpo